terça-feira, 25 de março de 2014

Linha Centro 129 anos: Passado e presente

  Há exatos 129 dava-se por inaugurado o primeiro trecho da Estrada de Ferro Central de Pernambuco, a primitiva Estrada de Ferro Recife – Caruaru. No dia 25 de Março de 1885, o trecho de 17 km entre as estações Central do Recife e Jaboatão era oficialmente aberto ao tráfego. Intermediando o referido trecho havia apenas a estação de Tejipió.
Há 129, da estação Central, partia a primeira composição da
Estradade Ferro Recife a Caruaru. (Imagem: Retirada da página
 vivointensamenteascoisasmaissimples.blogspot.com)

  Entre 1885, ano de inauguração deste primeiro trecho, até 1963, quando os trilhos da Estrada de Ferro Central de Pernambuco, posterior Linha Centro, alcançaram Salgueiro, esta ferrovia foi prolongada pausadamente. Só em 1895 alcançou Caruaru, Arcoverde em 1912, Afogados da Ingazeira em 1949, Serra Talhada em 1957 e Salgueiro em 1963, esta última num momento em que a decadência de nosso sistema ferroviário já começava a despontar, tendo em vista a falta de interesse por parte de nossos governantes com poucos investimentos para os trilhos, por outro lado cada vez mais investindo nas rodovias.
Ponte Phoenix, da EFCP, em Afogados.
(Imagem: Mario Carvalho - Acervo Recife
de Antigamente)
  Nos muitos anos de seu funcionamento, até quando teve seu tráfego oficialmente encerrado em 1996, a Linha Centro de Pernambuco representou uma importante ligação entre a capital pernambucana e a Zona da Mata, Agreste e Sertão pernambucanos tanto no transporte de passageiros (até o fim da década de 1980), quanto no de cargas (até 1996). Até mesmo depois do encerramento de seu tráfego oficial, a mesma serviu para abastecer algumas cidades que estavam a sofrer com as secas, conforme tratado em postagem do MFPE (link) – Os trens de água na memória de nossas ferrovias.
  Hoje, Pernambuco não tem mais essa ligação ferroviária. A Nova Transnordestina que está sendo construída, a passos de tartaruga, a fim de substituir a Linha Centro, tem uma proposta totalmente diferente e, ao contrário da antiga ferrovia, não passará pelos centros urbanos, uma proposta um tanto questionável, visto que a opção de se recuperar a ferrovia já existente, aproveitando-se seu traçado apenas com algumas correções, seria algo bem mais viável, pois além de manter a memória da velha ferrovia, poderia se pensar numa reativação do transporte de passageiros e das cargas que se encontram nos centros dos municípios cortados pela linha. Claro que isso é algo difícil se de pensar, num país que dispensa totalmente o modal ferroviário em detrimento do rodoviário.
  O panorama da preservação da memória da antiga Linha Centro, ao longo dos seus 609 km não é bom. Roubo de trilhos em vários trechos, como entre Serra Talhada e Mirandiba, agora também entre Flores e Carnaíba, nas proximidades de Sertânia e de Belo Jardim, fora quaisquer outros pontos que ainda não tenham sido percebidos. Algo lamentável que começou justamente no descumprimento por parte da ex—concessionária da linha, a CFN, atual TLSA, na fiscalização e manutenção da linha. Algo lamentável também é a invasão do leito da via férrea por construções e por asfaltamento, além dos prédios de vilas ferroviárias e estações abandonados e arruinados ao longo da linha, como é o caso das estações ferroviárias de Jaboatão e Moreno, ambas na Região Metropolitana do Recife e Felipe Camarão e Henrique Dias, no Sertão.

Acesso a plataforma da estação Jaboatão, nos anos 1990,
pouco tempo após seu fechamento. (Imagem: Acervo Emmanoel Lucas)
  Algo lamentável para a memória de nossas ferrovias, em especial da Linha Centro de Pernambuco, é o abandono de uma das estações restantes do primitivo trecho inaugurado em 1885. Falamos da estação Jaboatão, que há anos foi fechada e logo teve seu teto, portas e janelas roubados. O mais lamentável e inaceitável é que a localização da referida edificação é bem no Centro da cidade de Jaboatão, ao lado da estação Jaboatão do Metrô e da integração do SEI. Quando poderia ser mais um cartão postal da cidade, mais um local para manter viva não só a memória ferroviária, mas do próprio município jaboatonense que muito deve à velha estação e as oficinas ferroviárias que foram instaladas pela Great Western no início do século XX próximas da estação, que geraram muitos empregos e fomentaram muito a economia deste município. Ao menos boa parte das oficinas está sendo recuperada pelo SENAI, que está visando manter as características originais. No entanto, a velha estação, além de saqueada, encontra-se tomada pelo mato, o que não representa um motivo para se comemorar estes 129 anos de sua inauguração.

Nos anos 1990, após seu fechamento, a estação Jaboatão antes de começar a
ser depredada. Pode notar-se em seu pátio alguns vagões, que ali ficaram durante anos.
(Imagem: Acervo Emmanoel Lucas)

Em 2002, a situação da estação Jaboatão já era preocupante.
(Imagem: Rodrigo Cabredo)

Estação Jaboatão hoje: Lamentável! Como a sociedade brasileira pode aceitar um descaso como este?
(Imagem: Acervo Emmanoel Lucas)
  Felizmente, parte da memória da Linha Centro está sendo salva com algumas cidades preservando suas estações, tais como Salgueiro, Serra Talhada, Carnaíba, Sertânia, Mimoso (em Pesqueira), Pesqueira, Sanharó, Tacaimbó, São Caitano, Caruaru, Bezerros, Gravatá, Vitória de Santo Antão;
 em breve também teremos de volta o Museu do Trem do Recife na majestosa Estação Central que ainda encontra-se em seu ocioso processo de reabertura. Ao contrário da estação Jaboatão, essa encontra-se muito bem preservada; agora, depois de mais uma reforma, o belo e ornamentado prédio da estação Central, que há mais de um século embeleza o bairro de Santo Antônio, no Recife, está às vésperas de ser novamente mais um grande espaço pela memória da ferrovia em Pernambuco, em especial da lendária Estrada de Ferro Central de Pernambuco e sua história de 129 anos.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Linha Norte: Um panorama da última ferrovia "ativa" de Pernambuco (parte 2)

 Nossa viagem pela Linha Norte de Pernambuco começa justamente na estação Jorge Lins. A mesma, operacional pelo sistema diesel da CBTU – METROREC representa, ou pelo menos já representou um importante entroncamento ferroviário do estado. No pátio de Jorge Lins, a Linha vinda de Cinco Pontas, bifurca nas Linhas Centro (para Salgueiro) e Norte.
Estação Jorge Lins ao fundo, à esquerda desvio para
Salgueiro e em frente, Linha Norte. (Imagem: Pedro Costa)

  Seguindo a viagem, alcança-se a estação de Curado, também operacional pela CBTU – METROREC, pelo VLT que faz a ligação Curado – Cajueiro Seco. A mesma estação é conjugada com a estação Curado, da bitola larga do METROREC. Mais adiante, logo se avista o pátio ferroviário de Lacerda, onde até pouco tempo atrás a TLSA mantinha vagões e vez ou outra locomotivas, quando a Linha Norte estava em atividade. O pátio é grande, são quatro linhas além de casas de apoio ao pessoal da ferrovia.
 Ao fim deste pátio fica a estação de passageiros de Lacerda, conjugada com a estação TIP do METROREC e com o
Estação da Rodoviária. (Imagem: Marcos Francisco - Março de 2014).
próprio Terminal Rodoviário do Recife. A mesma, em estilo simples, mas de longa plataforma central, foi construída na década de 1980 e serviu aos trens de subúrbio para São Lourenço, além do trem de longo percurso que ainda era operado na Linha Norte. Falasse também que esta estação serviu como ponto de partida para os trens de passageiros com destino a Salgueiro, que nos últimos anos de seu funcionamento, partiam de Lacerda e seguiam pela bifurcação do pátio de Jorge Lins, alcançando Jaboatão e seguindo com destino ao Sertão do estado.
  O trecho seguinte da Linha Norte de Pernambuco atravessa a reserva de mata atlântica da família Brennand, acompanhando o leito do Rio Capibaribe até as proximidades do acesso à Arena Pernambuco, no bairro de Cosme e Damião. Os trilhos seguem pela periferia de Camaragibe onde alcançam a estação ferroviária local, um prédio datado de 1906, que possui armazém para cargas conectado ao prédio principal.

  Infelizmente, apesar do valor histórico desta edificação e sua boa localização, encontra-se abandonado e arruinado. A seu exemplo,  o leito da linha neste trecho (como em vários outros próximos às áreas urbanas) é interpretado pela população como um lixão, onde abandonam seus dejetos sem respeito algum.
  Espremida pela zona urbana, a Linha Norte segue seu rumo alcançando a estação ferroviária de São Lourenço da Mata, de amplo pátio, o que demonstra o quanto foi importante o mesmo. São várias linhas, além de garagens para autos de linha e armazéns que já foram demolidos. O prédio da estação, que já não recebe trens de passageiros há anos, serve hoje de moradia, um destino que não o mais ideal, no entanto ótimo para manter de pé a histórica edificação.
Abandonada, a estação ferroviária de Camaragibe.
(Imagem: Arquivo pessoal - 2009)
  Ao passarem do Centro de São Lourenço da Mata, os trilhos alcançam os abundantes canaviais da Mata Norte e a próxima parada é a pequena estação de Tiúma, onde mais uma vez o destino de se tornar moradia foi o que nos permitiu ter até hoje a pequena edificação de pé e preservada.
  Logo após Tiúma, a Linha Norte de Pernambuco deixa a Região Metropolitana do Recife, chegando ao município de Paudalho. Mussurepe, uma pequena parada, charmosa em sua modesta estrutura de ferro, resistiu ao tempo e ao abandono, se mantendo como uma das poucas paradas desta ferrovia que serviam aos povoados de usina, neste caso, a extinta Usina Mussurepe. São Severino dos Ramos, povoação bastante movimentada pelos seus atrativos religiosos é a parada seguinte, e mesmo com a importância que tinha a pequena estação para o povoado, só sobrou a plataforma para contar a história.
Estação de Tiúma. (Imagem: Arquivo pessoal - 2009).
De São Severino só restou a plataforma.
(Imagem: Arquivo pessoal - 2012).
A pequena parada de Mussurepe,
resistindo ao tempo. (Imagem: Arquivo
pessoal - 2013).












  Não muito distante dali está a estação ferroviária de Paudalho. Bem próxima ao Centro da cidade, fica à margem esquerda do rio Capibaribe. Seu pátio também foi de grande importância. Possuía mais de três linhas, além de armazéns de carga. O prédio da estação, datado de 1881, passou por um longo tempo no abandono e agora está quase que totalmente recuperado por meio de um projeto do Arquivo Público Estadual, em parceria com o IPHAN responsável pela restauração do prédio, e a prefeitura local. As características originais da edificação foram recuperadas e agora está por ser mais um cartão postal para a cidade.

Estação de Paudalho, seu pátio e a capela. (Imagem: Arquivo
pessoal - 2013).
  Mais aproximados 12 quilômetros atravessando canaviais e restingas de mata e chegamos à próxima parada, a estação ferroviária de Carpina, esta que era uma das mais importantes da linha.  Era de Carpina que partiam os trens com destino ao ramal de Bom Jardim, o mesmo que foi desativado oficialmente pela RFFSA em 1968, já estando desde 1963 sem tráfego. O pátio de Carpina, por sua vez, possuía três linhas, duas plataformas, armazéns, caixa d’água e até girador de locomotivas. Hoje, para contar este passado, resistem a estação (que atualmente funciona como moradia e lan-house), a velha caixa d’água de ferro que traz em sua estrutura ainda as indicações de seu fabricante e origem (Londres, Inglaterra) e duas linhas do pátio. A última composição que passou por Carpina, como já dito em postagem anterior, foi da CBTU – Recife, em transferência do sistema de trens urbanos de João Pessoa. A mesma ficou parada no pátio da estação durante um tempo, enquanto os responsáveis por sua condução faziam um lanche. Nesse meio tempo, várias pessoas movimentaram o local para tirar fotos, outros mais idosos começaram a relembrar seus tempos de mocidade quando a estação era movimentada, no lamento de verem o trem parar ali e não poderem embarcar. E é lamentável realmente nem este primeiro trecho da Linha Norte de Pernambuco não ter trem de passageiros, pois a demanda é grande e, sem o transporte sobre trilhos, milhares de pessoas, não somente neste trecho, ficam a mercê do monopólio do sistema de transporte rodoviário, mesmo que em um modelo correto deveria servir apenas como complemento ao transporte ferroviário, no entanto, como se vê não só em Pernambuco, os ônibus e caminhões passam a “substituir” os trens e daí uma decadência vertiginosa do sistema de transportes do país.
Eis a estação de Carpina. (Imagem: Arquivo pessoal - 2013).
Continuamos nossa viagem e, seguindo agora de Carpina, a próxima parada agora é Tracunhaém, da qual a estação ferroviária já não existe mais, restando apenas ruínas da plataforma.
  Nazaré da Mata é o próximo ponto da linha, de amplo e extenso pátio, possui três linhas, longa plataforma, além de garagem para auto de linha e local para carregamento de grãos. Apesar de ficar bem à entrada da cidade, a estação ferroviária de Nazaré da Mata, está sem uso, abandonada e fechada há anos. A cobertura da plataforma já está se desfazendo pela ação do tempo. Parte da plataforma já foi tomada pelo mato. Essa estação era tida como ponto de apoio à TLSA, que utilizava de seu pátio para deixar vagões e também como parada intermediária para descanso.
Junco e Upatininga são estações intermediárias ao trecho seguinte (Nazaré da Mata – Aliança), e serviam a povoações de engenho. Hoje, das mesmas, só restam amostras de ruínas em meio aos canaviais.
Estação ferroviária de Nazaré da Mata
(Imagem: Arquivo pessoal - 2011)
Não muito distante de Nazaré da Mata, apenas 27 km, está Aliança e sua estação ferroviária, que fica logo à entrada da cidade. O pátio extenso da estação de Aliança fica bem a margem do rio Capibaribe – Mirim, e contava com caixa d’água, armazém e o prédio principal. Hoje a caixa d’água não existe mais, demolida em mais um ato de vandalismo; o armazém tem uso não identificado e o prédio principal, em estado deplorável, cada vez mais arruinado e escondido pelo mato, representa o descaso cometido contra as ferrovias de Pernambuco e sua memória. Pouco antes do início do pátio de Aliança há uma passagem de nível (cruzamento com rodovia) da qual quando se olha para suas extremidades, já não se vêm bem os trilhos, já sem uso há meses e tomados pelo mato.
Estação de Aliança no abandono. (Imagem: Arquivo pessoal
- 2011).
  Deixando Aliança, a Linha Norte atravessa um percurso de aproximados 20 quilômetros até Timbaúba, trecho intermediado pela estação de Pureza. Esta por sua vez, a próxima parada de nossa viagem, já serviu de cenário para o romance do paraibano José Lins do Rêgo, intitulado “Pureza”, que conta uma envolvente história supostamente vivida por um recifense que vem para Pureza à procura da saúde e de se revigorar com o ar puro do campo. Nessa viagem o narrador (e personagem principal) acaba por se envolver amorosamente com as duas filhas do chefe da estação e por aí se dá o desenrolar do enredo.
A estação de Pureza, relatada no romance de
José Lins do Rego. (Imagem: Arquivo pessoal - Janeiro de 2013).

  A estação ferroviária de Pureza servia a um pequeno povoado e também a usina Cruanji, que embarcava suas cargas para o Recife nos trens da RFFSA e posteriormente nos trens da TLSA, o que deixou de ocorrer há cerca de 4 anos, segundo um trabalhador da própria usina, que está com suas atividades suspensas; inclusive a usina ainda guarda em sua garagem, que fica próxima à estação, duas locomotivas que utilizava na sua malha. A estação de Pureza possui longo pátio com duas linhas principais e mais três por trás do prédio, onde ficavam estacionados vagões com cargas da usina. Além do prédio, infelizmente abandonado, há também a estrutura da antiga caixa d’água. Uma das extremidades do pátio fica próximo ao uma ponte de ferro bem conservada.
  O pátio de Pureza e sua tranquilidade, lamentavelmente abandonos ficam para trás e nossa viagem continua agora se aproximando de Timbaúba. Neste trecho da linha há muitas curvas e também percebemos atos de vandalismo ao patrimônio ferroviário, com alguns dormentes queimados.
  Após cruzar canaviais e belos trechos de mata, os trilhos alcançam Timbaúba, importante cidade da Mata    Norte de Pernambuco e que também mostra o quanto era importante na Linha Norte. Seu pátio ferroviário é enorme, ficando bem ao centro da cidade e contando com quatro linhas, estrutura para carregamento de vagões com grãos, caixa d’água, garagens para auto de linha, casa do chefe, além do prédio principal e de uma plataforma secundária. É este o último grande pátio da linha antes de cruzar o limite entre Pernambuco e a Paraíba.
Trecho da Linha Norte entre Timbaúba e Pureza.
(Imagem: Arquivo pessoal - Março de 2013).
  O prédio da estação ferroviária de Timbaúba está razoavelmente preservado e, a exemplo, de Carpina, a utilização do mesmo como moradia é o que o mantém preservado. Agora, a mesma ação desenvolvida para a estação de Paudalho, citada na parte anterior desta matéria, está para ser desenvolvida em Timbaúba, com a revitalização do prédio por meio do projeto de criação dos arquivos públicos municipais, uma iniciativa do Arquivo Público Estadual em parceria com o IPHAN-PE e as prefeituras. No entanto, mais um importante pátio fica no aguardo das composições de carga que por ele transitaram até pouco tempo atrás.
  Nossa viagem pela Linha Norte de Pernambuco se aproxima do fim. A próxima parada agora, logo após Timbaúba, é a pequena e arruinada estação ferroviária de Rosa e Silva. Esta fica bem próxima à divisa entre Pernambuco e a Paraíba. Serviu também como estação de apoio à TLSA anos atrás, porém, conforme relato do site “Estações Ferroviárias do Brasil”, um incêndio no prédio fez com que o mesmo fosse abandonado e deixado de lado. Hoje, as paredes e a estrutura de sustentação da cobertura da plataforma resistem à ação do tempo, em meio ao mato. A pequena estação da Great Western parece ter seu destino decretado: o abandono e a destruição.
A estação ferroviária de Timbaúba, um grande pátio e muita
história. (Imagem: Arquivo pessoal - 2011).
  Os trilhos cruzam a divisa com a Paraíba e eis o ponto final de nossa viagem, o triângulo ferroviário da cidade de Itabaiana-PB. Aqui, a nossa linha Norte se entronca com outras duas linhas: O ramal vindo de João Pessoa-PB e a linha vinda do Ceará, que cruza o Sertão paraibano, passando por importantes cidades como Souza-PB e a própria Campina Grande-PB. Este enorme pátio, conhecido desde os tempos da Great Western como Triângulo, possui várias linhas, galpão de manutenção de locomotivas e uma estação operacional da TLSA. Quando fizemos a visitação ao pátio, pudemos perceber o quanto foi importante e quanto é amplo este complexo ferroviário. Ainda hoje é ponto de apoio da TLSA, mas praticamente inativo. Hoje um único funcionário da companhia toma conta do local. No galpão onde até pouco tempo eram realizadas manutenções em locomotivas e vagões, apenas há um auto de linha da TLSA utilizado para fazer simples vistorias, nada de mais, no trecho paraibano administrado pela concessionária. Segundo o funcionário da TLSA de Itabaiana, a mesma está a se centralizar cada vez mais em Fortaleza, levando para lá boa parte do material das oficinas paraibanas e também de Pernambuco e Alagoas. A situação é lamentável. O único trem que está programado para passar pelo Triângulo é o Expresso Forrozeiro, ou o Trem do Forró de Campina Grande, que faz o percurso João Pessoa – Campina Grande nas festas juninas.
Triângulo ferroviário em Itabaiana-PB. Aqui a Linha Norte
se conecta com outras ferrovias do Nordeste. A linha da esquerda
é a Norte, que segue para Recife, a da direita segue para Campina Grande-PB
e para trás, o ramal que segue para João Pessoa.
(Imagem: Arquivo pessoal - Março de 2014).
  Uma esperança para reativação de parte da Linha Norte, segundo notícia do último dia 12 de Março de 2014, do site “Giro pela Mata Norte”, é a que vereadores das câmaras de Carpina, Paudalho e Nazaré da Mata fizeram pedido à CBTU de ampliação do sistema de transporte de passageiros para Nazaré da Mata, isso feito a partir da manifestação de interesse dos alunos do Campus Nazaré da Mata, pelo fato de os trilhos da Linha Norte passarem bem próximos ao local e que sua reativação seria de grande proveito para os cerca de 2000 alunos da Universidade que se deslocam diariamente entre as referidas cidades e o Recife. 
 
Galpão de manutenções do pátio de Triângulo.
(Imagem: Arquivo pessoal - Março de 2014).
  Assim finalizamos a nossa viagem pela Linha Norte de Pernambuco, uma ferrovia que apesar de sua importância está sendo aos poucos deixada de lado também. Em paralelo a isso vemos estações mais que centenárias sendo abandonadas, trilhos que poderiam estar transportando cargas e passageiros serem tomados pelo mato e pelo vandalismo de muitos, além disso, também temos estradas cada vez mais cheias de caminhões e ônibus, estradas esburacadas e a memória do trem sendo desvalorizada, sem se levar em conta o quanto seria importante ter linhas como essas na ativa.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Linha Norte: Um panorama da última ferrovia "ativa" de Pernambuco (Parte 1)

   São aproximados 135 km quilômetros entre a capital pernambucana e a divisa com a Paraíba que representam o trecho dentro do estado da Linha Tronco Norte de Pernambuco. A mesma que teve como embrião a Estrada de Ferro do Recife ao Limoeiro, foi construída pela Great Western no fim do século XIX, tendo sido seu primeiro trecho inaugurado em 1881 e em 1888 alcançou Timbaúba, o último município pernambucano pelo qual a linha passa. Em 1900, esta linha vinda de Pernambuco, encontrou-se com a Estrada de Ferro Conde D’Eu, da Paraíba, concretizando uma ligação de sucesso entre as porções sul e norte da Região Nordeste.
Trecho da Linha Norte entre Carpina e Paudalho (Imagem: Arquivo
Pessoal - Janeiro de 2014)
   A partir do Recife, por meio da Linha Norte, pode-se chegar no estado da Paraíba e no Ceará. Antes também se podia alcançar o Rio Grande do Norte, o que já não é mais possível, tendo em vista as más condições atuais do ramal que permitia isso, a partir da estação Paula Cavalcanti, na Paraíba.
   Com a progressiva desativação de nossas ferrovias, inicialmente do sistema de transporte de passageiros de longo percurso, importantes troncos ferroviários do Nordeste ficaram no abandono, como é o caso da Linha Tronco Centro (Recife – Salgueiro), abandonada logo após a privatização em 1997. A Linha Tronco Sul, que fazia a ligação entre o Recife e o estado de Alagoas, servindo como ligação entre Pernambuco e o Sul – Sudeste do país também entrou no abandono. A recuperação da mesma pela Transnordestina Logística S/A (TLSA), sua concessionária até então, trouxeram esperanças na reativação desse importante tronco ferroviário do Nordeste, fato que esbarrou nas cheias de 2010 e 2011 que destruíram o leito da via em vários pontos, tanto em Pernambuco como em Alagoas, onde as chuvas foram mais devastadoras ainda.
   A situação ficou a seguinte: Linha Centro totalmente abandonada, Linha Sul parcialmente afetada pelas chuvas aguardando novas definições do governo e, por sua vez, a Linha Norte, a única que continuou em operação, que, a essa altura (2010) já não era tão regular como nos tempos da RFFSA ou como no início da concessão privada. Era esta a única linha a oferecer condições de tráfego ainda, e a própria TLSA ainda operava a mesma com seus cargueiros.
   Apesar de a concessionária ainda ter mantido essa linha ativa, os cargueiros ficaram cada vez mais raros. Os mesmos eram mais comumente vistos passando à beira da Avenida Belmino Correia em São Lourenço, ou passando na estação Rodoviária, próximo ao pátio ferroviário de Lacerda, no Recife, este mesmo que também sempre tinha vagões ou locomotivas parados em suas linhas.
Composição da CBTU - Recife, o último trema transitar pela Linha Norte até então (Imagem: Arquivo Pessoal - Agosto de 2013)

   Hoje, o mato cresce sobre os trilhos da Linha Norte, que há meses já não é utilizada. A última composição a utilizar a linha foi da CBTU - Recife, em Agosto de 2013, em devolução da CBTU – João Pessoa. A mesma composição, formada pela locomotiva ALCO RS-8 número 6011, tracionando cinco carros pidner, encontrou muitas dificuldades para chegar ao Recife, o que demonstra já a falta de manutenção da Linha, que há mais tempo ainda não recebe trens cargueiros. Além desta composição, algumas semanas antes um trem da própria concessionária da linha, a TLSA, de capina química*, havia vindo até o Recife e retornado brevemente.

Trem de Capina Química, no momento em que passava em Tracunhaém
 (Imagem: Robson Santana)
*O Trem de Capina Química é uma composição especial de manutenção de via, que derrama sobre o leito da via permanente uma substância química que mata lentamente o mato sobre a mesma.
   De lá para cá, a Linha Norte, que é a última ainda ativa do estado, o que já não é um fato, tendo em vista as raríssimas composições que a utilizam, demonstra em seu panorama traços de abandono que representam uma verdadeira falta de respeito com o patrimônio público ferroviário nacional e com a memória de nossos trilhos.
Linha Norte próximo a parada de Mussurepe (Imagem: Arquivo pessoal - 2013)

Estação Ferroviária de São Lourenço. Hoje é
 utilizada como moradia. (Imagem: Arquivo pessoal - 2009)
   O senhor Roberto Cardoso, 55, garçom, que morou sempre próximo a Camaragibe, um dos municípios cortados pela Linha Norte, conta que era comum nas décadas de 1970 e 1980 verem-se autos de linha da RFFSA com o pessoal da mesma, sempre fazendo manutenção na via, limpando mato, trocando trilhos, dormentes. Ele também falou que o pátio da estação ferroviária de São Lourenço, hoje moradia, era sempre cheio de vagões. Em Camaragibe também o movimento era intenso no pátio. Tanto trens de passageiros, como os cargueiros eram bem mais frequentes à essa época.
   Nada disso mais se vê agora, e os trilhos da Linha Norte de Pernambuco continuam cada vez mais ficando esquecidos e despercebidos por onde passam.
Estação Ferroviária de Timbaúba. (Imagem: Arquivo pessoal - Março de 2013)

   Na segunda parte desta matéria sobre a Linha Norte de Pernambuco, o Projeto Memória Ferroviária de Pernambuco fará uma viagem pelos trilhos desta linha, mostrando vários de seus pontos de parada até Timbaúba.