quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Estação Ferroviária de Aripibú: Uma história de preservação



   Localizado na Zona da Mata Sul às margens do rio Aripibú, no município de Ribeirão-PE, o povoado de Aripibú tem suas origens em meados do século XIX. No ano de 1862, mais precisamente a 13 de Maio, a Estrada de Ferro do Recife ao São Francisco inaugurava uma estação ferroviária no local. A ligação por via férrea com a capital e os bons solos foram alguns dos fatores que decorreram na fundação de uma usina de álcool e açúcar no povoado no ano de 1888, a Usina Aripibú. Esta, por sua vez, chegou a possuir uma ferrovia particular de 60 km, cinco locomotivas e 125 vagões com capacidade para três toneladas, cada, além de uma ampla vila operária.
  O tráfego na estação ferroviária de Aripibú, era relativamente forte, pois na mesma eram embarcados e desembarcados passageiros e produtos da Usina.
  A estação foi parcialmente desativada na década de 1970, quando seu último chefe, Deolindo Sobral, passou a ser fiscal de trens. A estação ainda servia como parada dos trens que vinham de Frexeiras a Ribeirão e sentido contrário, porém sem a venda de bilhetes. Alguns anos mais tarde, seu Deolindo faleceu, deixando a morar na estação sua esposa, dona Gercina, e sete filhos. A RFFSA, no entanto quis demolir a estação já que seu funcionário não morava mais lá. Dona Gercina então foi junto aos chefes da Rede intervir para que isto não ocorresse. Segundo ela, os mesmos consultaram-na em seguida com relação a quais partes da antiga estação ela utilizava; ela respondeu que apenas o prédio principal, daí foi demolido apenas o armazém  de cargas, restando o prédio de embarque e desembarque de passageiros.
  Hoje, a pequena estação de Aripibú pode ser considerada uma raridade, uma vez que muitas outras estações pelo estado não tiveram a mesma sorte e vieram abaixo. Isso deve então explicar o que ocorreu com outras estações tais como Russinha, Ipanema e outras de menor porte: foram parcialmente desativadas e demolidas pela RFFSA, talvez simplesmente por não estarem em uso, ou até para não se cogitar reativações. De qualquer forma, é um verdadeiro crime demolir prédios com tanta história como esses.
  O Projeto Memória Ferroviária de Pernambuco visitou o povoado de Aripibú para registrar a pequena estação ferroviária e lá fomos muito bem recebidos por Ane Sobral e sua mãe, dona Gercina que nos ofertou um relato de ouro de sua vida como esposa do chefe da estação. Ela contou que antes de se casar com seu Deolindo, vinha vê-lo de trem já que ele morava na estação e ela no centro de Ribeirão. Posteriormente ele se casaram e tiveram sete filhos, todos criados à beira da via férrea. Graças a ela tivemos a oportunidade de alcançar ainda de pé a velha estação. Também falou do movimento de trens que era intenso décadas atrás, tanto de passageiros como de cargas, citando um tipo de locomotiva que cruzava o local apelidada pelos habitantes da região de "Três rolos"; possivelmente esse apelido se referia às enormes locomotivas Garrat (o último exemplar desta locomotiva encontra-se no Museu do Trem, localizado na antiga Estação Central do Recife).
  Hoje só raros autos de linha da Transnordestina Logística cruzam o local; há muito tempo não se vêem os trens de carga. Há boatos de um projeto de reativação de um trem de passageiros entre a estação do Cabo, na Região Metropolitana do Recife, e a estação de Ribeirão, o que traria de volta o movimento de passageiros à plataforma da estação de Aripibú. Durante nossa visita, conversamos com outras pessoas no povoado sobre isso e todos se mostraram a favor, alegando que é uma melhor opção de transporte para os muitos que se deslocam de Ribeirão para o Cabo para trabalhar e que daria uma animada no povoado, sendo enfim algo muito bom para eles.
 
  EPISÓDIO INTERESSANTE OCORRIDO ENTRE RIBEIRÃO E ARIPIBÚ

Dona Sebastiana, 84 anos.
  Dona Sebastiana Maria Cardoso (avó do autor), 84 anos, conta que por volta da década de 1940 morava com sua irmã no município de Barra de Guabiraba e estava se mudando para Aripibú, pois seu cunhado José Paulino iria trabalhar cortando cana para a Usina deste local. Então partiram, ela, sua irmã Anunciada grávida e as filhas desta - Maria e Amara e José Paulino. Apanharam o trem na estação ferroviária de Cortês, a mais próxima da sua antiga casa, e seguiram viagem.
  Ao parar na estação de Ribeirão, José Paulino desceu do trem para comprar um café para a sua esposa, Anunciada. Enquanto o mesmo estava a pegar seu troco, o trem soltou o apito da partida. José, desesperado correu para a plataforma a fim de alcançar o trem, mas não teve jeito.
  Quando dona Sebastiana, sua irmã e as filhas desta desceram em Aripibú, sentaram nos bancos da estação  e ficaram aguardando José Paulino que havia ficado para trás. Um tempo após o desembarque, o trem já havia seguido viagem para Recife, e eis que alguém aponta no fim da reta... era José Paulino, correndo aflito que estava chegando, chorando, achando que havia perdido sua família. Em pouco tempo ele fez os 8 km que separam as estações de Aripibú e Ribeirão.
  Após o reencontro bastante inusitado todos seguiram para sua nova casa.

Abaixo, fotos da estação ferroviária de Aripibú.

Galpões da velha Usina Aripibú. (Foto Arquivo pessoal, Janeiro de 2013).

A Usina Aripibú e a capelinha da mesma . (Foto: Arquivo pessoal, Janeiro de 2013).

O rio Aripibú. (Foto: Arquivo pessoal, Janeiro de 2013).

A plataforma da estação ferroviária de Aripibú. (Foto: Arquivo pessoal - Janeiro de 2013).

Estação ferroviária de Aripibú, inaugurada a 13 de Maio de 1862. (Foto: Arquivo pessoal - Janeiro de 2013).

Ainda pode-se notar o velho dístico da estação numa de suas paredes. (Foto: Arquivo pessoal - Janeiro de 2013).

Os trilhos da Linha Sul de Pernambuco e a velha estação de Aripibú. (Foto: Arquivo pessoal - Janeiro de 2013).

A parte de trás da estação. (Foto: Arquivo pessoal - Janeiro de 2013).

Perfil da vila operária da Usina Aripibú. (Foto: Arquivo pessoal - Janeiro de 2013).



 
 
 
 
  

10 comentários:

  1. Por que a TLSA parou de transportar em Pernambuco e na Paraíba?

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  2. Para falar a verdade, não sei. Talvez para privilegiar o Ceará, estado onde se localiza sua sede principal.

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  3. Aripibu fica do lado direito ou esquerdo da rodovia?
    Qual o ponto de referência da entrada do povoado?

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  4. Daniel, ela fica ao lado direito da BR-101, uns 12 quilômetros após o centro de Escada.

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  5. Otimas as informações para quem nasceu em Aripibu e guarda lembranças muito nítidas e variadas, mesmo que tenha sido obrigado a se exilar por conta da revolução de 30. Quero voltar a Aripibu. Diz que fica a uns 12 km. do centro de Escada. Onde fica o centro de Escada? Perguntando acharei

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  6. Gostaria de ver mais fotos sobre Aripibu vivi minha infancia ai sds

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  7. Porque deixar que uma usina tão bem localizada simplesmente ficasse desativada ainda bem que a senhora Gercina não deixou que destruísse a estação ferroviária que ficou como um marco do que podia ser até hoje um ponto de turismo

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  8. Em 1962 eu tinha 10 anos e a usina Aripibu já estava desativada. Um detalhe eu lembro que tinha uma cerca onde as estacas tinham uma bola branca na ponta. Só vim saber disso muitos anos depois. Naquele tempo eu andava descalço ou com Alpercatas de pneus. O ano 1962 foi a última vez que eu vi Aripibu. Também conheço aqui na Bahia outra usina desativada MARACANGALHA.Hoje é um pequeno distrito de São Sebastião do Passé.

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  9. Só vim saber que era casca de ovos muito tempo depois.

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