quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Em Pernambuco: Um mês do patrimônio ferroviário

Neste mês de Agosto de 2016, diversas atividades voltadas para o patrimônio e memória ferroviária se realizarão em Pernambuco. A maior parte deles ocorrerá no Museu do Trem do Recife. Pela IXª Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco que traz como temática a participação social na preservação do patrimônio, o Museu ferroviário mais antigo do país, sediado na Estação Central do Recife, trará uma programação bastante diversificada que começará no dia 15 de Agosto e irá até o dia 19, quando se encerra a Semana. Dentre as atividades realizadas no espaço, além de jogos didáticos para o público escolar voltados para o patrimônio ferroviário e das visitas guiadas ao espaço, ocorrerá uma oficina sobre gestão do patrimônio ferroviário, recital de cordel, lançamento do livro "A primeira ferrovia inglesa no Brasil", de Josemir Camilo de Melo e a exibição do curta-metragem "Painho e o Trem", roteiro e direção de Mery Lemos.
Fechando o "mês ferroviário", no dia 27 de Agosto, a ONG Movimento Nacional Amigos do Trem promove a 5ª Edição da Caminhada Nos Trilhos da História, que percorrerá 13 quilômetros da Linha Norte de Pernambuco, entre as estações ferroviárias de Carpina e Paudalho na Mata Norte de Pernambuco.
Confira os detalhes da programação do Museu e da Caminhada logo abaixo e saiba como participar:
Fonte: Museu do Trem do Recife (divulgação)

Fonte: ONG Amigos do Trem (Divulgação)


quarta-feira, 22 de junho de 2016

Em Pernambuco, Trem do Forró mantêm viva segunda ferrovia do Brasil

No último dia 11 de Junho de 2016, o Projeto Memória Ferroviária pode acompanhar e registrar o tradicional Trem do Forró pernambucano, que é realizado desde 1991. A iniciativa da Serrambi Turismo, do forró sobre trilhos, já virou tradição no mês de Junho. De início o percurso era feito pela Linha Centro de Pernambuco, no trecho entre Recife e Caruaru. Devido às condições da linha que, sem a devida manutenção e já não oferecia segurança, o percurso teve de ser alterado no ano de 2000 e desde então o trajeto feito pelo Trem do Forró é do Recife ao Cabo de Santo Agostinho. Curiosamente, o primeiro trecho ferroviário do estado, o segundo do Brasil.

Acima, imagem da primeira viagem, em 1858, abaixo registro
do Trem do Forró em 2016, partindo do mesmo lugar, por trás
da Igreja Matriz de São José, no Recife. 

Inaugurado em 8 de Fevereiro de 1858, o trecho Recife - Cabo da Recife and São Francisco Railway foi o marco inicial para a história da ferrovia em Pernambuco. Desta época ainda há a Estação Ferroviária do Cabo, ainda a original que recebeu as primeiras viagens e que hoje, com mais de 150 anos em atividade, ainda é terminal em operação do sistema de VLT da CBTU - Recife. E, no mês de Junho, é destino do Trem do Forró.
Este ano o Trem do Forró voltou a partir da plataforma da antiga Estação Ferroviária de Cinco Pontas, a qual foi construída em 1983 e desativada no fim dos anos 1990. Do mesmo lugar de onde partiu o primeiro trem pernambucano, em 1858, quando ainda não havia a estação. Cinco Pontas só veio a ser construída em 1884, sendo demolida em 1969 para a execução do Viaduto das Cinco Pontas. Os trens de passageiros com destino a Linha Sul deixaram de partir de Cinco Pontas na década de 1930, sendo transferidos para a Estação Central do Recife (atual Museu do Trem do Recife). Com a desativação desta para as obras do Metrô do Recife, em 1983, foi adaptada em alguns galpões uma nova estação de passageiros em Cinco Pontas, a atual. No entanto, o Pátio de Cinco Pontas se manteve enquanto terminal de cargas.
Locomotiva ALCo 6003, da CBTU, a frente do Trem do Forró
na plataforma da Estação de Cinco Pontas. (Imagem: André Cardoso/
Projeto Memória Ferroviária de Pernambuco)
Hoje, sem os trens de carga e de passageiros partindo de Cinco Pontas, o trecho ganha vida anualmente com as viagens do Trem do Forró. Apenas o trecho entre Cajueiro Seco e Cabo é utilizado diariamente pelos VLT's. Ao longo do trecho, mesmo diante da expansão urbana e das muitas modificações consequentes que o entorno da linha sofreu ao longo dos anos, as características peculiares das áreas de mangues ainda se mostram presentes e podem ser vistas da janela do trem. Ainda "mergulham mocambos nos mangues molhados, moleques mulatos vem vê-lo passar"(...) Mangueiras, coqueiros, cajueiros em flor (...)", assim como descreveu Ascenso Ferreira em seu memorável poema "Trem de Alagoas", que utiliza da Linha Sul  como cenário e se eterniza no seu conhecido refrão: "Vou danado pra Catende, vou danado pra Catende com vontade de chegar".
Diante da Estação do Cabo, eis o grande momento da festa:
Imagem: André Cardoso/ Projeto Memória Ferroviária de
Pernambuco
Parte do percurso da linha hoje acompanha o traçado da Linha Sul do Metrô. Entre as estações de Largo da Paz e Cajueiro Seco. O restante do traçado permanece solitário, cruzando rios, riachos, outros mangues. Os canaviais, também descritos no referido poema de Ascenso, já não tomam tanto conta da paisagem quanto antes.
Aos foliões, depois de muito forró dentro dos vagões, ao longo de cerca de 32 quilômetros (o mesmo percurso realizado em 30 minutos na primeira viagem de 1858 ), uma enorme festa os espera no largo da Estação Ferroviária do Cabo, toda enfeitada com temas juninos.

Outras imagens:


Pátio, plataforma, carros e a locomotiva, em Cinco Pontas, prestes a sair
com destino ao Cabo de Santo Agostinho. (Imagem: André Cardoso/ Projeto Memória
Ferroviária de Pernambuco

Os mangues ainda resistem na paisagem. (Imagem: André Cardoso/
Projeto Memória Ferroviária de Pernambuco)
O Trem do Forró cortando uma das estações da Linha Sul do Metrô do Recife.
(Imagem: André Cardoso/ Projeto Memória Ferroviária de Pernambuco)

"Encontro de gerações". Ao lado da locomotiva dos anos 1950, se aproxima
um trem elétrico dos anos 1980 na Linha Sul do Metrô do Recife. (Imagem:
André Cardoso/ Projeto Memória Ferroviária de Pernambuco)


Agradecimentos: Anderson Pacheco (Serrambi Turismo)/ Ronaldo Carvalho (Maquinista CBTU/ Recife)



Referências

CÔRTES, Eduardo. Da Great Western ao Metrô do Recife. Recife: Persona, 2003.
PINTO, Estevão. História de Uma Estrada de Ferro do Nordeste. Rio de Janeiro: José Olympio, 1949.
PORTAL - Trem do Forró. Disponível em: <http://www.tremdoforro.com.br/> Acesso em 22 de Junho de 2016.
TREM de Alagoas. Disponível em: <http://www.avozdapoesia.com.br/obras_ler.php?obra_id=1735> Acesso em 22 de Junho de 2016




sábado, 26 de dezembro de 2015

Os 120 anos da chegada do trem a Bezerros, Caruaru e São Caetano

Na década de 1890 a implantação de estradas de ferro em Pernambuco continuava, mas não com o mesmo fôlego que na década anterior.  A Estrada de Ferro do Recife ao Limoeiro já se dava por concluída desde 1882, havendo um ramal para Timbaúba já concluído desde 1888. A Recife and São Francisco Railway já se entroncava com a Estrada de Ferro Sul de Pernambuco em Palmares, indo esta já até Garanhuns, e em 1894 seria conectada por ramal com a Estrada de Ferro Central de Alagoas em União dos Palmares. A Estrada de Ferro do Recife a Caruaru (que em 1889 passara a se chamar Estrada de Ferro Central de Pernambuco), então, já avançava em pleno Agreste. Depois de vencer as escarpas da Serra das Russas nos limites do Planalto da Borborema, transição Mata/ Agreste, com inúmeros túneis e viadutos que custaram quase uma década de estudos e esforços para serem construídos, a linha havia alcançado Gravatá em 1894.
Em Caruaru, de um lado o armazém, do outro a estação
que há tempos não recebem mais trens.
(Fonte: www.jornalextra.com.br)

No ano de 1895, finalmente, a Estrada de Ferro Central de Pernambuco despontava em Bezerros, Caruaru e São Caetano. No mesmo dia, 1º de Dezembro de 1895 foram inauguradas as estações de Bezerros, Gonçalves Ferreira, Caruaru e São Caetano, esta já no km 161 da linha. Como conta Estevão Pinto, o primeiro trem a chegar a Caruaru estava coberto por folhagens, enfeites, levando diversas autoridades dentre as quais o Governador de Pernambuco, Barbosa Lima Sobrinho. À noite, naquele festivo 1º de Dezembro inaugurou-se também a iluminação a energia elétrica do prédio da prefeitura de Caruaru. Estevão Pinto ainda destaca que à época Bezerros possuía diversas fábricas de rapadura e Caruaru se elevava na produção e exportação de couros para capital, bem como queijo, feijão e o talvez mais importante produto da região, o algodão, além de já se apresentar como importante centro comercial do interior de Pernambuco.
Vale ressaltar que a chegada dos trilhos fez muito bem ao Agreste, no sentido que proporcionou uma melhor comunicação das cidades da região com a capital, que antes dependiam das poucas e precárias estradas de rodagem que encareciam ainda mais os produtos em seu transporte. A ferrovia também trouxe consigo uma demanda por mão de obra na sua manutenção e operação. Não se pode deixar de citar o transporte de pessoas como uma das melhorias vindas com o trem. As viagens para Recife, bem como entre outras cidades cortadas pelos trilhos passavam a ser feitas em tempo reduzido, com maior conforto.
Estação Ferroviária de São Caetano, razoavelmente preservada.
(Fonte: joaoalmeidavereador.blogspot.com)
Hoje, 120 anos depois a Linha Centro de Pernambuco encontra-se desativada e em muitos trechos de seu leito, nem parece ter existido. O transporte de cargas na linha foi interrompido no fim dos anos 1990. Os trens de passageiros já não circulavam desde 1988, entre Recife e Salgueiro. Apenas o Trem do Forró, até pelo menos 2000, ainda fazia o trecho Recife – Caruaru anualmente, percurso que precisou ser alterado devido às más condições em que se encontrava a via. As mesmas Bezerros, Caruaru e São Caetano que há 120 anos comemoravam a chegada da inovadora locomotiva, hoje dela guardam algumas lembranças. São estas as antigas estações: A Estação de Bezerros, hoje a bem preservada “Estação da Cultura” abriga um importante centro de difusão da cultura e de proteção da memória local, uso num mínimo digno diante da importância que teve o prédio para a cidade. São Caetano também mantêm sua estação razoavelmente preservada. Caruaru, por sua vez, também preserva seu conjunto ferroviário, em parte como ponto de difusão cultural. No antigo pátio são realizados eventos bem como parte da tradicional festa junina, mas sem o famoso Trem do Forró. Não podemos esquecer da Estação de Gonçalves Ferreira, quilômetros antes de Caruaru, da qual resta apenas a plataforma e a estrutura de sua coberta.
De Gonçalves Ferreira, o que restou. (Imagem: André Cardoso)
Há também diversos trechos de trilhos ainda existentes nestes municípios, tendo sido boa parte invadida por construções irregulares, asfaltados e em vários pontos os trilhos foram simplesmente roubados. Este é o atual cenário, 120 anos depois. As três cidades referidas que em 1895 recebiam o trem muito cresceram com o apoio da ferrovia e hoje se configuram como importantes centros urbanos do agreste pernambucano, com destaque para Caruaru e Bezerros. Hoje possuem uma maior demanda de transporte de cargas e deslocamento de pessoas, dependendo exclusivamente do modal rodoviário, que por sua vez encontra-se saturado em diversos sentidos. Seria então o momento de se repensar o que foi feito dos trilhos e o porquê de terem sido deixados de lado. O que foram feitos destes 120 anos?
Estação Ferroviária de Bezerros, hoje "Estação da Cultura",
traz diante de sua plataforma um antigo vagão de madeira
no qual são vendidos itens do artesanato local. (Imagem: André Cardoso)


Referências

BONFIM, Luiz Ruben F. de A. Estrada de Ferro Central de Pernambuco. Graf Tech: Paulo Afonso, 2002.

PINTO, Estevão. História de Uma Estrada de Ferro do Nordeste. José Olympio: Rio de Janeiro, 1949.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Uma ferrovia para Igarassu e Goiana

Na década de 1870 houve um projeto que, por questão judicial acabou não dando certo. O referido projeto era o de se construir uma ferrovia que, partindo de Olinda alcançasse Igarassu, povoação mais antiga do estado (que em 2015 completou 480 anos de sua fundação simbólica) e Goiana, já nos limites entre Pernambuco e Paraíba, importante centro produtor açucareiro e comercial da Zona da Mata Norte.
A proposta da segunda metade do século XIX era atrair capital para o país, e Pernambuco não ficara de fora. Seria esta uma forma de industrializar o país, fora que as potências da época há algum tempo já buscavam estabelecer novos mercados para escoar sua produção e, consequentemente expandir o capitalismo. As estradas de ferro, criação ainda recente, já eram vistas pelo Império brasileiro como uma possível forma de se estabelecer a pretendida integração nacional.
Paço Municipal de Goiana. Goiana, importante
centro produtor de açúcar, seria diretamente beneficiada pelo
traçado da linha da Great Northern. (Imagem: André Cardoso, 2014)
A partir de 1852 então foram feitas diversas concessões a estrangeiros para a implantação de estradas de ferro no jovem Império brasileiro. A Recife and São Francisco Railway, primeira companhia ferroviária inglesa a atuar no país e que veio a construir em Pernambuco a segunda estrada de ferro no país, foi uma destas concessionárias. Em 1858 era então inaugurado o primeiro trecho da Recife and São Francisco, entre Recife e a Vila do Cabo, até então.
Na década de 1870 novas concessões foram realizadas. Em 1875, já autorizada a funcionar no Brasil, a Great Western of Brazil Railway consegue a concessão para construir e explorar uma estrada de ferro entre o Recife e Limoeiro, que à época se destacava no setor algodoeiro. A linha da Great Western seguiria partindo da Estação do Brum, na porção norte do Recife, seguindo pelos atuais municípios de Camaragibe, São Lourenço, Paudalho, Carpina até Limoeiro, com ramal para Nazaré da Mata que seria prolongado até Timbaúba.

Sítio Histórico de Igarassu. A povoação mais antiga de Pernambuco, também
estaria dentro do traçado da linha da Great Northern. (Imagem: André Cardoso, 2014)
Também na década de 1870 surge a Great Northern of Brazil Railway, de acordo com a tese (1) de doutorado do Professor Doutor Josemir Camilo Melo. Esta companhia, como já dito, tinha a finalidade de explorar uma ferrovia partindo de Olinda que, passando por Igarassu, atingiria Goiana, com ramal para Itambé, já próximo à divisa com a Paraíba. A execução desta ferrovia porém acabou não vingando. As concessões eram feitas garantindo à essas companhias um monopólio de exploração do transporte ferroviário num raio de cerca de 30 km em torno do eixo do trilhos. E a linha da Great Northern pelo seu traçado estaria infringindo os limites da concessão da Great Western, nas proximidades de Timbaúba. Isso resultou num processo jurídico por parte da Great Western contra a Great Northern que se arrastou até 1894, de acordo com o Professor Camilo. Vencida a causa pela Great Western, a Great Northern não chegou a se constituir e a linha para Goiana não saiu do papel.
Reprodução de mapa mostrando as linhas da Great Western e da Great Northern,
essa destaca em tom mais escuro. (Fonte: MELO, Josemir Camilo. Mudanças e
Modernização: O Trem Inglês nos Canaviais do Nordeste (1852- 1902)
. 2000. Tese.
Universidade Federal de Pernambuco: Recife, 2000) 
Fazendo agora um levantamento de hipóteses e possibilidades, se houvesse sido construída a linha entre Olinda, Igarassu e Goiana, viria a beneficiar diretamente uma região rica na produção do açúcar e onde se constituiriam mais a frente os municípios de Paulista, Abreu e Lima, Itapissuma. As demais linhas, Linha Centro, Sul e Norte, vieram mais a frente a se tornarem, seus trechos iniciais, percurso dos trens de subúrbio, vindo a orientar a implantação das linhas do metrô do Recife a partir da década de 1980. Então, se a linha da Great Northern houvesse sido construída, teríamos metrô para Igarassu hoje? Fica a pergunta, nada mais que uma simples hipótese, já que isso dependeria de outros fatores econômicos e sociais. No entanto, uma boa hipótese. Uma das áreas mais populosas da Região Metropolitana do Recife hoje dispondo de transporte ferroviário. Um sonho talvez, quase concretizado no fim do século XIX.

1 - MELO, Josemir Camilo. Mudanças e Modernização: O Trem Inglês nos Canaviais do Nordeste (1852- 1902). 2000. Tese. Universidade Federal de Pernambuco: Recife, 2000.

Referências

CÔRTES, Eduardo. Da Great Western ao Metrô do Recife. Persona: Recife, 2003.
LIMA, Pablo L. de O. Ferrovia, Sociedade e Cultura (1850 - 1930). Editora Argumentum: Belo Horizonte, 2009.
MELO, Josemir Camilo. Mudanças e Modernização: O Trem Inglês nos Canaviais do Nordeste (1852- 1902). 2000. Tese. Universidade Federal de Pernambuco: Recife, 2000.
PINTO, Estevão. História de Uma Estrada de Ferro do Nordeste. José Olympio: Rio de Janeiro, 1949.


sexta-feira, 31 de julho de 2015

Pirangi e Florestal: Duas estações, dois destinos

No início deste ano o Projeto Memória Ferroviária de Pernambuco empreendeu mais algumas expedições pelo estado para fazer o resgate da memória ferroviária de Pernambuco. Duas das estações visitadas, ambas na Linha Sul de Pernambuco, na Zona da Mata Sul, tendo sido as duas inauguradas no ano de 1894, há 111 anos, são o tema desta postagem. A primeira dessas duas estações é Pirangi, uma pequena estação ferroviária localizada a margem do rio de mesmo nome, nas terras da Usina Pirangi. Fica nos limites do município de Palmares. A segunda estação visitada, fica a 38 km de Pirangi. É a Estação de Florestal, no município de Maraial, nas terras do antigo Engenho Florestal.
Embora a uma certa distância uma da outra, Pirangi e Florestal foram duas das muitas estações implantadas nas linhas férreas tronco, nas zonas rurais de municípios pernambucanos, justificadas pela economia açucareira, ora pela existência de uma usina ou engenho que, por ferrovia, escoava sua produção para o Recife. Era também por meio destas pequenas estações que as comunidades que geralmente se desenvolviam no entorno dessas indústrias, mantinham comunicação com as cidades. Em 1862 a Recife and São Francisco Railway chegava a povoação de Una, que viria a originar a atual cidade de Palmares. Daí, em 1882, a Estrada de Ferro Sul de Pernambuco, partindo da Estação de Palmares (Una, à época), inaugurou o trecho até Catende. trecho esse em que doze anos depois seria inaugurada a Estação de Pirangi, a 25 de Agosto de 1894.
Em 1885 a Estrada de Ferro Sul de Pernambuco inaugurava o Túnel de Maraial, cerca de um quilômetro após a Estação de Maraial, e em Janeiro de 1885 era inaugurada a Estação de Quipapá. A cerca de três quilômetros da Estação de Maraial, em Dezembro de 1894, foi inaugurada a Estação de Florestal.
Como pode-se perceber, as Estações de Pirangi e Florestal foram implantadas anos depois da chegada dos trilhos em seus lugares. E, como dito, tendo as duas praticamente a mesma idade de inauguração (111 anos), no entanto a situação das duas é bastante oposta. Começando pela Estação Pirangi, foi uma surpresa bastante gratificante encontrá-la de pé.
Usina Pirangi. (Acervo pessoal - Janeiro/ 2015)
A povoação de mesmo nome localiza-se a poucos quilômetros do centro de Palmares, uma povoação simples e de muitas casas que aparentam ter mais de meio século. A Usina Pirangi, desativada há mais de 10 anos, resiste em suas ruínas a margem do rio. Na outra margem, está o casarão da Usina e a Estação Ferroviária de Pirangi. A ponte que dava acesso ao outro lado do rio foi destruída por enchentes e o acesso à estação tem de ser feito por balsa. Logo após atravessar o Pirangi, em um nível mais alto, está a pequena Estação.
Pirangi, uma raridade. (Acervo pessoal - Janeiro/ 2015)

 Uma raridade encravada na Zona da Mata Sul. Ainda conserva o telhado original, cobertura da plataforma, os dísticos trazendo o nome da Estação ainda com a grafia antiga "Pirangy"e a cor tradicional amarela com detalhes em branco e vermelho. A plataforma também se encontra praticamente intacta. A fixação para os isoladores dos fios da rede telegráfica ainda se encontra em uma das paredes. Portas e janelas ainda em seus lugares. A edificação hoje utilizada como depósito de uma das casas vizinhas, é um verdadeiro símbolo de resistência, tendo em vista sua localização e a boa situação em que se encontra. Numa colina, de frente para a Estação, o casarão da Usina, também bem conservado ainda serve de moradia.
Trilhos cobertos pelo mato, e os restos da plataforma e cobertura
da Estação Florestal. (Acervo pessoal - Janeiro/ 2015)
Em situação totalmente oposta encontra-se a Estação de Florestal, ou melhor, o que sobrou dela. O acesso a Estação é pelo Centro de Maraial. A estrada de barro que leva ao povoado corta a Linha Sul algumas vezes. A beleza do lugar é inquestionável, com muitos caminhos de água e serras verdes. A poucos metros do lugar da Estação nos deparamos com uma enorme caixa d'água de ferro, utilizada para o abastecimento das locomotivas a vapor, nos tempos que as "vaporosas" cortavam a Mata Sul pernambucana. Avistamos uma placa de quilometragem da via férrea e logo chegamos ao local. Infelizmente da Estação pouco sobrou, além da própria linha férrea, as ruínas da plataforma e alguns elementos de ferro de sustentação da cobertura da plataforma. Lamentável. Postes da rede telegráfica ainda resistindo completam o cenário. O local da estação está tomado pelo mato.
Do acervo do seu João Estêvão, imagem da Estação Florestal possivelmente entre
os anos 1950/ 1960.
Nas proximidades há algumas casas que aparentam ser bastante antigas, dentre as quais está a residência do senhor João Estêvão, filho do João Estêvão de Azevedo, que foi chefe da Estação de Florestal durante vários anos.
Seu João Estêvão mostra como funciona a lanterna
que ele até hoje guarda, utilizada na Estação de Florestal
(Acervo pessoal - Janeiro/ 2015)
Ele nos contou que a casa foi construída por seu avô, português que trabalhou na construção da Estrada de Ferro Sul do Pernambuco, no fim do século XIX. Seu João relembrou o movimento dos trens na estação, recordando dos trens carregados de açúcar que cruzavam o lugar e dos trens de passageiros Recife - Maceió. Além de uma valiosa fotografia antiga da Estação de Florestal, ele guarda a lanterna de sinalização manual utilizada na estação , e em ótimo estado de conservação. Em seu quintal está também uma velha balança de origem inglesa que foi utilizada na Estação. Ele lamenta a estação ter sido demolida após sua desativação, destino cruel de muitas outras estações pelo estado de Pernambuco.


 



Veja outras imagens:

Trilhos da Linha Sul e Estação Ferroviária de Pirangi. (Acervo pessoal - Janeiro/ 2015)

O dístico com a grafia "Pirangy" e acima a fixação para os isoladores de linha telegráfica. (Acervo pessoal - Janeiro/ 2015)
Os trilhos seguem para Maceió, diante da solitária plataforma de Pirangi. (Acervo pessoal - Janeiro/ 2015)


Caixa d'água nas proximidades de Florestal, para abastecimento
de locomotivas a vapor. (Acervo pessoal - Janeiro/ 2015)

Linha Sul tomada pelo mato e a caixa d'água de ferro com base em alvenaria. (Acervo pessoal - Janeiro/ 2015)

Nas proximidades Estação Florestal, a placa do km 163. (Acervo pessoal - Janeiro/ 2015) 


Esse elemento de sustentação da cobertura da plataforma da Estação de Florestal
foi um dos poucos vestígios que restaram. (Acervo pessoal - Janeiro/ 2015)
A balança da Estação Florestal. (Acervo pessoal - Janeiro/ 2015)




quarta-feira, 25 de março de 2015

Há 130 anos, o início de uma grande jornada por trilhos

O dia 25 de Março de 2015 marca uma data especial para a história da ferrovia em Pernambuco. Completam-se nesta data os 130 anos de inauguração do trecho Recife - Jaboatão da Estrada de Ferro Recife a Caruaru, ferrovia esta que em 1889 passaria a se chamar Estrada de Ferro Central de Pernambuco. Embora a inauguração desse primeiro trecho só tenha ocorrido em 1885, já em 1866 já se cogitava a possibilidade de interligar o Recife aos centros populosos do Agreste do estado. Na década de 1870 foram então feitas as definições e criada a Estrada de Ferro do Recife a Caruaru. Suas obras começaram então em 1881, sendo o primeiro trecho de 17 quilômetros concluído e inaugurado em 1885. Este primeiro trecho partia da provisória Estação Recife, ao lado da Casa de Detenção até a Estação Jaboatão, num trecho intermediado apenas pela Estação Tejipió. O dia da inauguração, 25 de Março, foi bastante festivo. Três composições inaugurais percorreram o trecho saindo a primeira às 09h da manhã, a segunda às 11h e a terceira às 13h. Conforme descreve o Diário de Pernambuco, em edição de 27 de Março de 1885, as duas primeiras composições levaram 32 minutos para percorrer todo o trecho, só a última de 13h que teve um certo atraso por problemas na locomotiva. Todas as composições foram recebidas com festa em Jaboatão, saudadas por foguetes, músicas, coroas de flores, muita festa.
Estava estabelecida a primeira ligação ferroviária entre o Recife e Jaboatão, o que veio a facilitar bastante o deslocamento entre as mesmas. O livro Memórias Destruídas de Jaboatão, de James Davidson, relata que antes da chegada do trem, era difícil se locomover de Jaboatão para Recife ou ao contrário, dependendo-se de carruagens.
No início apenas três estações: Recife, que não era a atual Central, que só viria a ser concluída três anos depois em 1888; Tejipió e Jaboatão. Posteriormente, com o aparecimento de demanda ao longo do trecho, dentre necessidades técnicas da ferrovia, foram surgindo novas estações, como Ipiranga em 1900, Areias (posterior Edgard Werneck) em 1891, Coqueiral em 1919, Floriano em 1935. Vale ressaltar que o traçado desta ferrovia, cerca de 100 depois de sua inauguração, viria a ser utilizado para a implantação do Metrô do Recife, sendo algumas estações do atual sistema de metrô de localização e nomenclatura das antigas estações. Mas, de todas essas estações, apenas uma é remanescente do histórico 25 de Março de 1885 e esta é Jaboatão. Mesmo em condições lamentáveis, arruinada, a edificação de Estação de Jaboatão não demonstra motivos para comemorar. Nem de longe é mais aquela que recebeu os trens inaugurais da linha. Sem telhado, portas ou janelas, a histórica edificação pena e implora por sua revitalização, bem ao Centro, no coração da cidade de Jaboatão, cidade que muito evoluiu e muito deve a ferrovia, mas que demonstra ter esquecido essa importante parte de sua história.
Os 17 km de ferrovia continuaram a ser prolongados em direção ao Agreste, mas só alcançaram Caruaru em 1895, demora devida principalmente à dificuldade em se vencer a Serra das Russas, onde foi necessária a abertura de 21 túneis e inúmeros viadutos. A ampliação continuou nas mãos da Great Western, a partir do início do século XX, sempre por períodos interruptos e em 1949 chegavam os trilhos a Afogados da Ingazeira. A Rede Ferroviária do Nordeste e posteriormente a Rede Ferroviária Federal continuaram a prolongar a linha na década de 1950 que atingiu seu extremo em Salgueiro em 1963, com 609 km de trilhos. Foi a maior ferrovia já construída em Pernambuco. Deveria ter sido interligada a outras ferrovias no Ceará e na Bahia, mas isso nunca se concretizou, lamentavelmente.
Fica então a breve homenagem do Projeto Memória Ferroviária de Pernambuco ao 130º aniversário de inauguração do primeiro trecho do que foi um dos principais troncos ferroviários do estado.
130 anos importantes para Pernambuco. (Edição: André Cardoso)

Esta é Estação de Jaboatão. Há 130 anos a mesma recebia o primeiro trem da
futura Linha Centro. Hoje, só abandono. (Imagem: Arquivo MFPE - Março/2015)

domingo, 1 de fevereiro de 2015

A Linha Centro em Mirandiba

  Neste início de 2015 o Projeto Memória Ferroviária de Pernambuco já pegou a estrada e foi atrás de registros do antigo conjunto ferroviário de Mirandiba, localizado no quilômetro 560 da Linha Centro de Pernambuco. Infelizmente o atual panorama do referido conjunto é desanimador, com a estação arruinada, armazém da mesma forma e as casas da enorme vila ferroviária boa parte em situação igual. Dos trilhos da linha no trecho boa parte já foram roubados, restando apenas a lembrança do que foi a maior ferrovia já construída em Pernambuco até o século XX. Acompanhe no pequeno vídeo-documentário que foi preparado, a seguir: