Nossa viagem pela Linha Norte de Pernambuco começa
justamente na estação Jorge Lins. A mesma, operacional pelo sistema diesel da
CBTU – METROREC representa, ou pelo menos já representou um importante
entroncamento ferroviário do estado. No pátio de Jorge Lins, a Linha vinda de
Cinco Pontas, bifurca nas Linhas Centro (para Salgueiro) e Norte.
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Estação Jorge Lins ao fundo, à esquerda desvio para
Salgueiro e em frente, Linha Norte. (Imagem: Pedro Costa) |
Seguindo a viagem, alcança-se a estação de Curado, também
operacional pela CBTU – METROREC, pelo VLT que faz a ligação Curado – Cajueiro
Seco. A mesma estação é conjugada com a estação Curado, da bitola larga do
METROREC. Mais adiante, logo se avista o pátio ferroviário de Lacerda, onde até
pouco tempo atrás a TLSA mantinha vagões e vez ou outra locomotivas, quando a
Linha Norte estava em atividade. O pátio é grande, são quatro linhas além de
casas de apoio ao pessoal da ferrovia.
Ao fim deste pátio
fica a estação de passageiros de Lacerda, conjugada com a estação TIP do
METROREC e com o
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Estação da Rodoviária. (Imagem: Marcos Francisco - Março de 2014). |
próprio Terminal Rodoviário do Recife. A mesma, em estilo
simples, mas de longa plataforma central, foi construída na década de 1980 e
serviu aos trens de subúrbio para São Lourenço, além do trem de longo percurso
que ainda era operado na Linha Norte. Falasse também que esta estação serviu
como ponto de partida para os trens de passageiros com destino a Salgueiro, que
nos últimos anos de seu funcionamento, partiam de Lacerda e seguiam pela
bifurcação do pátio de Jorge Lins, alcançando Jaboatão e seguindo com destino
ao Sertão do estado.

O trecho seguinte da Linha Norte de Pernambuco atravessa a
reserva de mata atlântica da família Brennand, acompanhando o leito do Rio
Capibaribe até as proximidades do acesso à Arena Pernambuco, no bairro de Cosme
e Damião. Os trilhos seguem pela periferia de Camaragibe onde alcançam a
estação ferroviária local, um prédio datado de 1906, que possui armazém para
cargas conectado ao prédio principal.
Infelizmente, apesar do valor histórico
desta edificação e sua boa localização, encontra-se abandonado e arruinado. A
seu exemplo, o leito da linha neste
trecho (como em vários outros próximos às áreas urbanas) é interpretado pela
população como um lixão, onde abandonam seus dejetos sem respeito algum.
Espremida pela zona urbana, a Linha Norte segue seu rumo
alcançando a estação ferroviária de São Lourenço da Mata, de amplo pátio, o que
demonstra o quanto foi importante o mesmo. São várias linhas, além de garagens
para autos de linha e armazéns que já foram demolidos. O prédio da estação, que
já não recebe trens de passageiros há anos, serve hoje de moradia, um destino
que não o mais ideal, no entanto ótimo para manter de pé a histórica
edificação.
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Abandonada, a estação ferroviária de Camaragibe.
(Imagem: Arquivo pessoal - 2009) |
Ao passarem do Centro de São Lourenço da Mata, os trilhos
alcançam os abundantes canaviais da Mata Norte e a próxima parada é a pequena
estação de Tiúma, onde mais uma vez o destino de se tornar moradia foi o que
nos permitiu ter até hoje a pequena edificação de pé e preservada.
Logo após Tiúma, a Linha Norte de Pernambuco deixa a Região
Metropolitana do Recife, chegando ao município de Paudalho. Mussurepe, uma
pequena parada, charmosa em sua modesta estrutura de ferro, resistiu ao tempo e
ao abandono, se mantendo como uma das poucas paradas desta ferrovia que serviam
aos povoados de usina, neste caso, a extinta Usina Mussurepe. São Severino dos
Ramos, povoação bastante movimentada pelos seus atrativos religiosos é a parada
seguinte, e mesmo com a importância que tinha a pequena estação para o povoado,
só sobrou a plataforma para contar a história.
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Estação de Tiúma. (Imagem: Arquivo pessoal - 2009). |
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De São Severino só restou a plataforma.
(Imagem: Arquivo pessoal - 2012). |
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A pequena parada de Mussurepe,
resistindo ao tempo. (Imagem: Arquivo
pessoal - 2013). |
Não muito distante dali está a estação ferroviária de
Paudalho. Bem próxima ao Centro da cidade, fica à margem esquerda do rio
Capibaribe. Seu pátio também foi de grande importância. Possuía mais de três
linhas, além de armazéns de carga. O prédio da estação, datado de 1881, passou
por um longo tempo no abandono e agora está quase que totalmente recuperado por
meio de um projeto do Arquivo Público Estadual, em parceria com o IPHAN
responsável pela restauração do prédio, e a prefeitura local. As características
originais da edificação foram recuperadas e agora está por ser mais um cartão
postal para a cidade.
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Estação de Paudalho, seu pátio e a capela. (Imagem: Arquivo
pessoal - 2013). |
Mais aproximados 12 quilômetros atravessando canaviais e
restingas de mata e chegamos à próxima parada, a estação ferroviária de
Carpina, esta que era uma das mais importantes da linha. Era de Carpina que
partiam os trens com destino ao ramal de Bom Jardim, o mesmo que foi desativado
oficialmente pela RFFSA em 1968, já estando desde 1963 sem tráfego. O pátio de
Carpina, por sua vez, possuía três linhas, duas plataformas, armazéns, caixa
d’água e até girador de locomotivas. Hoje, para contar este passado, resistem a
estação (que atualmente funciona como moradia e lan-house), a velha caixa
d’água de ferro que traz em sua estrutura ainda as indicações de seu fabricante
e origem (Londres, Inglaterra) e duas linhas do pátio. A última composição que
passou por Carpina, como já dito em postagem anterior, foi da CBTU – Recife, em
transferência do sistema de trens urbanos de João Pessoa. A mesma ficou parada
no pátio da estação durante um tempo, enquanto os responsáveis por sua condução
faziam um lanche. Nesse meio tempo, várias pessoas movimentaram o local para
tirar fotos, outros mais idosos começaram a relembrar seus tempos de mocidade
quando a estação era movimentada, no lamento de verem o trem parar ali e não
poderem embarcar. E é lamentável realmente nem este primeiro trecho da Linha
Norte de Pernambuco não ter trem de passageiros, pois a demanda é grande e, sem
o transporte sobre trilhos, milhares de pessoas, não somente neste trecho,
ficam a mercê do monopólio do sistema de transporte rodoviário, mesmo que em um
modelo correto deveria servir apenas como complemento ao transporte
ferroviário, no entanto, como se vê não só em Pernambuco, os ônibus e caminhões
passam a “substituir” os trens e daí uma decadência vertiginosa do sistema de
transportes do país.
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Eis a estação de Carpina. (Imagem: Arquivo pessoal - 2013). |
Continuamos nossa viagem e, seguindo agora de Carpina, a
próxima parada agora é Tracunhaém, da qual a estação ferroviária já não existe
mais, restando apenas ruínas da plataforma.
Nazaré da Mata é o próximo ponto da linha, de amplo e extenso
pátio, possui três linhas, longa plataforma, além de garagem para auto de linha
e local para carregamento de grãos. Apesar de ficar bem à entrada da cidade, a
estação ferroviária de Nazaré da Mata, está sem uso, abandonada e fechada há
anos. A cobertura da plataforma já está se desfazendo pela ação do tempo. Parte
da plataforma já foi tomada pelo mato. Essa estação era tida como ponto de
apoio à TLSA, que utilizava de seu pátio para deixar vagões e também como
parada intermediária para descanso.
Junco e Upatininga são estações intermediárias ao trecho
seguinte (Nazaré da Mata – Aliança), e serviam a povoações de engenho. Hoje,
das mesmas, só restam amostras de ruínas em meio aos canaviais.
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Estação ferroviária de Nazaré da Mata (Imagem: Arquivo pessoal - 2011) |
Não muito distante de Nazaré da Mata, apenas 27 km, está Aliança
e sua estação ferroviária, que fica logo à entrada da cidade. O pátio extenso
da estação de Aliança fica bem a margem do rio Capibaribe – Mirim, e contava
com caixa d’água, armazém e o prédio principal. Hoje a caixa d’água não existe
mais, demolida em mais um ato de vandalismo; o armazém tem uso não identificado
e o prédio principal, em estado deplorável, cada vez mais arruinado e escondido
pelo mato, representa o descaso cometido contra as ferrovias de Pernambuco e
sua memória. Pouco antes do início do pátio de Aliança há uma passagem de nível
(cruzamento com rodovia) da qual quando se olha para suas extremidades, já não
se vêm bem os trilhos, já sem uso há meses e tomados pelo mato.
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Estação de Aliança no abandono. (Imagem: Arquivo pessoal
- 2011). |
Deixando Aliança, a Linha Norte atravessa um percurso de
aproximados 20 quilômetros até Timbaúba, trecho intermediado pela estação de
Pureza. Esta por sua vez, a próxima parada de nossa viagem, já serviu de
cenário para o romance do paraibano José Lins do Rêgo, intitulado “Pureza”, que
conta uma envolvente história supostamente vivida por um recifense que vem para
Pureza à procura da saúde e de se revigorar com o ar puro do campo. Nessa
viagem o narrador (e personagem principal) acaba por se envolver amorosamente
com as duas filhas do chefe da estação e por aí se dá o desenrolar do enredo.
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A estação de Pureza, relatada no romance de
José Lins do Rego. (Imagem: Arquivo pessoal - Janeiro de 2013). |
A estação ferroviária de Pureza servia a um pequeno povoado
e também a usina Cruanji, que embarcava suas cargas para o Recife nos trens da
RFFSA e posteriormente nos trens da TLSA, o que deixou de ocorrer há cerca de 4
anos, segundo um trabalhador da própria usina, que está com suas atividades
suspensas; inclusive a usina ainda guarda em sua garagem, que fica próxima à
estação, duas locomotivas que utilizava na sua malha. A estação de Pureza
possui longo pátio com duas linhas principais e mais três por trás do prédio,
onde ficavam estacionados vagões com cargas da usina. Além do prédio,
infelizmente abandonado, há também a estrutura da antiga caixa d’água. Uma das
extremidades do pátio fica próximo ao uma ponte de ferro bem conservada.
O pátio de Pureza e sua tranquilidade, lamentavelmente
abandonos ficam para trás e nossa viagem continua agora se aproximando de
Timbaúba. Neste trecho da linha há muitas curvas e também percebemos atos de
vandalismo ao patrimônio ferroviário, com alguns dormentes queimados.
Após cruzar canaviais e belos trechos de mata, os trilhos
alcançam Timbaúba, importante cidade da Mata Norte de Pernambuco e que também
mostra o quanto era importante na Linha Norte. Seu pátio ferroviário é enorme, ficando
bem ao centro da cidade e contando com quatro linhas, estrutura para
carregamento de vagões com grãos, caixa d’água, garagens para auto de linha,
casa do chefe, além do prédio principal e de uma plataforma secundária. É este
o último grande pátio da linha antes de cruzar o limite entre Pernambuco e a
Paraíba.
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Trecho da Linha Norte entre Timbaúba e Pureza.
(Imagem: Arquivo pessoal - Março de 2013). |
O prédio da estação ferroviária
de Timbaúba está razoavelmente preservado e, a exemplo, de Carpina, a
utilização do mesmo como moradia é o que o mantém preservado. Agora, a mesma
ação desenvolvida para a estação de Paudalho, citada na parte anterior desta
matéria, está para ser desenvolvida em Timbaúba, com a revitalização do prédio
por meio do projeto de criação dos arquivos públicos municipais, uma iniciativa
do Arquivo Público Estadual em parceria com o IPHAN-PE e as prefeituras. No
entanto, mais um importante pátio fica no aguardo das composições de carga que
por ele transitaram até pouco tempo atrás.
Nossa viagem pela Linha Norte de
Pernambuco se aproxima do fim. A próxima parada agora, logo após Timbaúba, é a
pequena e arruinada estação ferroviária de Rosa e Silva. Esta fica bem próxima à
divisa entre Pernambuco e a Paraíba. Serviu também como estação de apoio à TLSA
anos atrás, porém, conforme relato do site “Estações Ferroviárias do Brasil”,
um incêndio no prédio fez com que o mesmo fosse abandonado e deixado de lado.
Hoje, as paredes e a estrutura de sustentação da cobertura da plataforma
resistem à ação do tempo, em meio ao mato. A pequena estação da Great Western
parece ter seu destino decretado: o abandono e a destruição.
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A estação ferroviária de Timbaúba, um grande pátio e muita
história. (Imagem: Arquivo pessoal - 2011). |
Os trilhos cruzam a divisa com a
Paraíba e eis o ponto final de nossa viagem, o triângulo ferroviário da cidade
de Itabaiana-PB. Aqui, a nossa linha Norte se entronca com outras duas linhas:
O ramal vindo de João Pessoa-PB e a linha vinda do Ceará, que cruza o Sertão paraibano,
passando por importantes cidades como Souza-PB e a própria Campina Grande-PB.
Este enorme pátio, conhecido desde os tempos da Great Western como Triângulo,
possui várias linhas, galpão de manutenção de locomotivas e uma estação
operacional da TLSA. Quando fizemos a visitação ao pátio, pudemos perceber o
quanto foi importante e quanto é amplo este complexo ferroviário. Ainda hoje é
ponto de apoio da TLSA, mas praticamente inativo. Hoje um único funcionário da
companhia toma conta do local. No galpão onde até pouco tempo eram realizadas
manutenções em locomotivas e vagões, apenas há um auto de linha da TLSA
utilizado para fazer simples vistorias, nada de mais, no trecho paraibano
administrado pela concessionária. Segundo o funcionário da TLSA de Itabaiana, a
mesma está a se centralizar cada vez mais em Fortaleza, levando para lá boa
parte do material das oficinas paraibanas e também de Pernambuco e Alagoas. A
situação é lamentável. O único trem que está programado para passar pelo
Triângulo é o Expresso Forrozeiro, ou o Trem do Forró de Campina Grande, que
faz o percurso João Pessoa – Campina Grande nas festas juninas.
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Triângulo ferroviário em Itabaiana-PB. Aqui a Linha Norte
se conecta com outras ferrovias do Nordeste. A linha da esquerda
é a Norte, que segue para Recife, a da direita segue para Campina Grande-PB
e para trás, o ramal que segue para João Pessoa.
(Imagem: Arquivo pessoal - Março de 2014). |
Uma esperança para reativação de
parte da Linha Norte, segundo notícia do último dia 12 de Março de 2014, do
site “Giro pela Mata Norte”, é a que vereadores das câmaras de Carpina,
Paudalho e Nazaré da Mata fizeram pedido à CBTU de ampliação do sistema de
transporte de passageiros para Nazaré da Mata, isso feito a partir da
manifestação de interesse dos alunos do Campus Nazaré da Mata, pelo fato de os
trilhos da Linha Norte passarem bem próximos ao local e que sua reativação
seria de grande proveito para os cerca de 2000 alunos da Universidade que se
deslocam diariamente entre as referidas cidades e o Recife.
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Galpão de manutenções do pátio de Triângulo.
(Imagem: Arquivo pessoal - Março de 2014). |
Assim finalizamos a nossa viagem
pela Linha Norte de Pernambuco, uma ferrovia que apesar de sua importância está
sendo aos poucos deixada de lado também. Em paralelo a isso vemos estações mais
que centenárias sendo abandonadas, trilhos que poderiam estar transportando
cargas e passageiros serem tomados pelo mato e pelo vandalismo de muitos, além
disso, também temos estradas cada vez mais cheias de caminhões e ônibus,
estradas esburacadas e a memória do trem sendo desvalorizada, sem se levar em
conta o quanto seria importante ter linhas como essas na ativa.