sábado, 26 de dezembro de 2015

Os 120 anos da chegada do trem a Bezerros, Caruaru e São Caetano

Na década de 1890 a implantação de estradas de ferro em Pernambuco continuava, mas não com o mesmo fôlego que na década anterior.  A Estrada de Ferro do Recife ao Limoeiro já se dava por concluída desde 1882, havendo um ramal para Timbaúba já concluído desde 1888. A Recife and São Francisco Railway já se entroncava com a Estrada de Ferro Sul de Pernambuco em Palmares, indo esta já até Garanhuns, e em 1894 seria conectada por ramal com a Estrada de Ferro Central de Alagoas em União dos Palmares. A Estrada de Ferro do Recife a Caruaru (que em 1889 passara a se chamar Estrada de Ferro Central de Pernambuco), então, já avançava em pleno Agreste. Depois de vencer as escarpas da Serra das Russas nos limites do Planalto da Borborema, transição Mata/ Agreste, com inúmeros túneis e viadutos que custaram quase uma década de estudos e esforços para serem construídos, a linha havia alcançado Gravatá em 1894.
Em Caruaru, de um lado o armazém, do outro a estação
que há tempos não recebem mais trens.
(Fonte: www.jornalextra.com.br)

No ano de 1895, finalmente, a Estrada de Ferro Central de Pernambuco despontava em Bezerros, Caruaru e São Caetano. No mesmo dia, 1º de Dezembro de 1895 foram inauguradas as estações de Bezerros, Gonçalves Ferreira, Caruaru e São Caetano, esta já no km 161 da linha. Como conta Estevão Pinto, o primeiro trem a chegar a Caruaru estava coberto por folhagens, enfeites, levando diversas autoridades dentre as quais o Governador de Pernambuco, Barbosa Lima Sobrinho. À noite, naquele festivo 1º de Dezembro inaugurou-se também a iluminação a energia elétrica do prédio da prefeitura de Caruaru. Estevão Pinto ainda destaca que à época Bezerros possuía diversas fábricas de rapadura e Caruaru se elevava na produção e exportação de couros para capital, bem como queijo, feijão e o talvez mais importante produto da região, o algodão, além de já se apresentar como importante centro comercial do interior de Pernambuco.
Vale ressaltar que a chegada dos trilhos fez muito bem ao Agreste, no sentido que proporcionou uma melhor comunicação das cidades da região com a capital, que antes dependiam das poucas e precárias estradas de rodagem que encareciam ainda mais os produtos em seu transporte. A ferrovia também trouxe consigo uma demanda por mão de obra na sua manutenção e operação. Não se pode deixar de citar o transporte de pessoas como uma das melhorias vindas com o trem. As viagens para Recife, bem como entre outras cidades cortadas pelos trilhos passavam a ser feitas em tempo reduzido, com maior conforto.
Estação Ferroviária de São Caetano, razoavelmente preservada.
(Fonte: joaoalmeidavereador.blogspot.com)
Hoje, 120 anos depois a Linha Centro de Pernambuco encontra-se desativada e em muitos trechos de seu leito, nem parece ter existido. O transporte de cargas na linha foi interrompido no fim dos anos 1990. Os trens de passageiros já não circulavam desde 1988, entre Recife e Salgueiro. Apenas o Trem do Forró, até pelo menos 2000, ainda fazia o trecho Recife – Caruaru anualmente, percurso que precisou ser alterado devido às más condições em que se encontrava a via. As mesmas Bezerros, Caruaru e São Caetano que há 120 anos comemoravam a chegada da inovadora locomotiva, hoje dela guardam algumas lembranças. São estas as antigas estações: A Estação de Bezerros, hoje a bem preservada “Estação da Cultura” abriga um importante centro de difusão da cultura e de proteção da memória local, uso num mínimo digno diante da importância que teve o prédio para a cidade. São Caetano também mantêm sua estação razoavelmente preservada. Caruaru, por sua vez, também preserva seu conjunto ferroviário, em parte como ponto de difusão cultural. No antigo pátio são realizados eventos bem como parte da tradicional festa junina, mas sem o famoso Trem do Forró. Não podemos esquecer da Estação de Gonçalves Ferreira, quilômetros antes de Caruaru, da qual resta apenas a plataforma e a estrutura de sua coberta.
De Gonçalves Ferreira, o que restou. (Imagem: André Cardoso)
Há também diversos trechos de trilhos ainda existentes nestes municípios, tendo sido boa parte invadida por construções irregulares, asfaltados e em vários pontos os trilhos foram simplesmente roubados. Este é o atual cenário, 120 anos depois. As três cidades referidas que em 1895 recebiam o trem muito cresceram com o apoio da ferrovia e hoje se configuram como importantes centros urbanos do agreste pernambucano, com destaque para Caruaru e Bezerros. Hoje possuem uma maior demanda de transporte de cargas e deslocamento de pessoas, dependendo exclusivamente do modal rodoviário, que por sua vez encontra-se saturado em diversos sentidos. Seria então o momento de se repensar o que foi feito dos trilhos e o porquê de terem sido deixados de lado. O que foram feitos destes 120 anos?
Estação Ferroviária de Bezerros, hoje "Estação da Cultura",
traz diante de sua plataforma um antigo vagão de madeira
no qual são vendidos itens do artesanato local. (Imagem: André Cardoso)


Referências

BONFIM, Luiz Ruben F. de A. Estrada de Ferro Central de Pernambuco. Graf Tech: Paulo Afonso, 2002.

PINTO, Estevão. História de Uma Estrada de Ferro do Nordeste. José Olympio: Rio de Janeiro, 1949.