quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Uma ferrovia para Igarassu e Goiana

Na década de 1870 houve um projeto que, por questão judicial acabou não dando certo. O referido projeto era o de se construir uma ferrovia que, partindo de Olinda alcançasse Igarassu, povoação mais antiga do estado (que em 2015 completou 480 anos de sua fundação simbólica) e Goiana, já nos limites entre Pernambuco e Paraíba, importante centro produtor açucareiro e comercial da Zona da Mata Norte.
A proposta da segunda metade do século XIX era atrair capital para o país, e Pernambuco não ficara de fora. Seria esta uma forma de industrializar o país, fora que as potências da época há algum tempo já buscavam estabelecer novos mercados para escoar sua produção e, consequentemente expandir o capitalismo. As estradas de ferro, criação ainda recente, já eram vistas pelo Império brasileiro como uma possível forma de se estabelecer a pretendida integração nacional.
Paço Municipal de Goiana. Goiana, importante
centro produtor de açúcar, seria diretamente beneficiada pelo
traçado da linha da Great Northern. (Imagem: André Cardoso, 2014)
A partir de 1852 então foram feitas diversas concessões a estrangeiros para a implantação de estradas de ferro no jovem Império brasileiro. A Recife and São Francisco Railway, primeira companhia ferroviária inglesa a atuar no país e que veio a construir em Pernambuco a segunda estrada de ferro no país, foi uma destas concessionárias. Em 1858 era então inaugurado o primeiro trecho da Recife and São Francisco, entre Recife e a Vila do Cabo, até então.
Na década de 1870 novas concessões foram realizadas. Em 1875, já autorizada a funcionar no Brasil, a Great Western of Brazil Railway consegue a concessão para construir e explorar uma estrada de ferro entre o Recife e Limoeiro, que à época se destacava no setor algodoeiro. A linha da Great Western seguiria partindo da Estação do Brum, na porção norte do Recife, seguindo pelos atuais municípios de Camaragibe, São Lourenço, Paudalho, Carpina até Limoeiro, com ramal para Nazaré da Mata que seria prolongado até Timbaúba.

Sítio Histórico de Igarassu. A povoação mais antiga de Pernambuco, também
estaria dentro do traçado da linha da Great Northern. (Imagem: André Cardoso, 2014)
Também na década de 1870 surge a Great Northern of Brazil Railway, de acordo com a tese (1) de doutorado do Professor Doutor Josemir Camilo Melo. Esta companhia, como já dito, tinha a finalidade de explorar uma ferrovia partindo de Olinda que, passando por Igarassu, atingiria Goiana, com ramal para Itambé, já próximo à divisa com a Paraíba. A execução desta ferrovia porém acabou não vingando. As concessões eram feitas garantindo à essas companhias um monopólio de exploração do transporte ferroviário num raio de cerca de 30 km em torno do eixo do trilhos. E a linha da Great Northern pelo seu traçado estaria infringindo os limites da concessão da Great Western, nas proximidades de Timbaúba. Isso resultou num processo jurídico por parte da Great Western contra a Great Northern que se arrastou até 1894, de acordo com o Professor Camilo. Vencida a causa pela Great Western, a Great Northern não chegou a se constituir e a linha para Goiana não saiu do papel.
Reprodução de mapa mostrando as linhas da Great Western e da Great Northern,
essa destaca em tom mais escuro. (Fonte: MELO, Josemir Camilo. Mudanças e
Modernização: O Trem Inglês nos Canaviais do Nordeste (1852- 1902)
. 2000. Tese.
Universidade Federal de Pernambuco: Recife, 2000) 
Fazendo agora um levantamento de hipóteses e possibilidades, se houvesse sido construída a linha entre Olinda, Igarassu e Goiana, viria a beneficiar diretamente uma região rica na produção do açúcar e onde se constituiriam mais a frente os municípios de Paulista, Abreu e Lima, Itapissuma. As demais linhas, Linha Centro, Sul e Norte, vieram mais a frente a se tornarem, seus trechos iniciais, percurso dos trens de subúrbio, vindo a orientar a implantação das linhas do metrô do Recife a partir da década de 1980. Então, se a linha da Great Northern houvesse sido construída, teríamos metrô para Igarassu hoje? Fica a pergunta, nada mais que uma simples hipótese, já que isso dependeria de outros fatores econômicos e sociais. No entanto, uma boa hipótese. Uma das áreas mais populosas da Região Metropolitana do Recife hoje dispondo de transporte ferroviário. Um sonho talvez, quase concretizado no fim do século XIX.

1 - MELO, Josemir Camilo. Mudanças e Modernização: O Trem Inglês nos Canaviais do Nordeste (1852- 1902). 2000. Tese. Universidade Federal de Pernambuco: Recife, 2000.

Referências

CÔRTES, Eduardo. Da Great Western ao Metrô do Recife. Persona: Recife, 2003.
LIMA, Pablo L. de O. Ferrovia, Sociedade e Cultura (1850 - 1930). Editora Argumentum: Belo Horizonte, 2009.
MELO, Josemir Camilo. Mudanças e Modernização: O Trem Inglês nos Canaviais do Nordeste (1852- 1902). 2000. Tese. Universidade Federal de Pernambuco: Recife, 2000.
PINTO, Estevão. História de Uma Estrada de Ferro do Nordeste. José Olympio: Rio de Janeiro, 1949.


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